Resenha - Toda Luz Que Não Podemos Ver (Livro) - Escrevendo meu Caminho

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Resenha - Toda Luz Que Não Podemos Ver (Livro)


Um livro para você refletir sobre as Injustiças da Vida e sobre a Crueldade da Guerra!


Resenha de Livros
SinopseMarie-Laure vive em Paris, perto do Museu de História Natural, onde seu pai é o chaveiro responsável por cuidar de milhares de fechaduras. Quando a menina fica cega, aos seis anos, o pai constrói uma maquete em miniatura do bairro onde moram para que ela seja capaz de memorizar os caminhos. Na ocupação nazista em Paris, pai e filha fogem para a cidade de Saint-Malo e levam consigo o que talvez seja o mais valioso tesouro do museu. Em uma região de minas na Alemanha, o órfão Werner cresce com a irmã mais nova, encantado pelo rádio que certo dia encontram em uma pilha de lixo. Com a prática, acaba se tornando especialista no aparelho, talento que lhe vale uma vaga em uma escola nazista e, logo depois, uma missão especial; descobrir a fonte das transmissões de rádio responsáveis pela chegada dos Aliados na Normandia. Cada vez mais consciente dos custos humanos de seu trabalho, o rapaz é enviado então para Saint-Malo, onde seu caminho cruza o de Marie-Laure, enquanto ambos tentam sobreviver à Segunda Guerra Mundial.

           Se você chegou até aqui com o intuito de saber se vale ou não a pena comprar esse livro para ler, antes de qualquer coisa eu quero lhe dar um aviso: 

Não Confie na Sinopse desse Livro!

          Parece um tanto radical da minha parte jogar um aviso como esse na sua frente, mas é a verdade. Eu comprei este livro baseando-me na premissa que vem descrita na sinopse que vem na contra-capa do livro físico, onde existem frases como: "Uma história de amor e bondade" e "Toda luz que não podemos ver é romance sobre generosidade e sobrevivência..." Mas não, este livro não é "tranquilo" assim. Eu diria que é até mesmo o contrário disso, não é uma história de amor e bondade, é uma história sobre uma terrível realidade que sobreveio sobre os moradores dos países que participaram da 2º Guerra Mundial. É uma história sobre dor, sofrimento, medo, angústia, injustiça, crueldade e sobrevivência. Este livro é um livro realista, e por isso, duro e impactante. Não estou, com todas essas falas, tentando fazer você, leitor, desistir da leitura. Nem ao menos, pretendo convencê-lo de que só encontrará um mundo obscuro se embarcar nesse universo. Só quero que saiba que nem tudo são flores aqui. A sinopse faz parecer que será uma leitura fácil e até otimista, mas acredito que você deva saber que nossos personagens passarão por coisa terríveis ao longo desse livro, contudo devo admitir que há sim um olhar singelo e belo sobre a vida que vem estampada em nossa personagem principal Marrie-Laure. Existe amor, existe felicidade, existe bondade nesta obra, mas ela não é feita apenas disso.

       Antes de continuar, devo acrescentar que não sou uma especialista em críticas e resenhas, porém estou me aventurando nesse universo, porque este livro me levou a isso.

Dito isto, podemos embarcar na obra em si. Toda luz que não podemos ver  conta a história de dois personagens principais: Marrie-Laure e Werner Pfenning. Ela é uma menina francesa que fica cega aos seis anos de idade, ele um menino alemão que fica órfão muito cedo. Apenas estas duas circunstâncias já nos mostram o quanto esse livro é duro. Para complicar a vida desses dois, que já não era muito fácil, vem a Guerra. Marrie-Laure é obrigada a deixar a cidade junto de seu pai e ir morar em Saint-Malo com o tio-avô, Werner teve que deixar a irmã para trás e entrar em uma escola nazista, acabando por fim em meio a guerra.

  O começo desse livro é intenso, já nos primeiros capítulos o leitor é informado sobre a situação caótica em que se encontra  a cidade de Saint-Malo, ficamos sabendo sobre o bombardeiro e o avanço do exército americano. Somos apresentados a Marrie-Laure que está sozinha em casa, quando tudo isso começa, enquanto Werner também está em Saint-Malo junto em uma missão para exército alemão, e acaba preso nos escombros do hotel onde estava. Toda a história do livro se desenvolve a partir dessa situação, o enredo do livro é bem intrigante. O autor dividiu a obra em 13 partes, nelas ele vai alternando entre passado e presente. O bombardeio a Saint-Malo acontece em  1944, mas logo após o leitor ser informado de toda essa situação, o autor volta no tempo, para 1934 mais precisamente, e começa a nos contar a história desses dois desde a infância. Ao longo da narrativa, ele volta ao dia do bombardeio várias vezes, mas logo viaja no tempo novamente. Não existe uma ordem cronológica precisa neste livro, o vai-e-vem temporal é constante e isso contribui para manter o leitor em suspense sobre o que vai acontecer com nosso protagonista, e a cada vez que o narrador volta esse dia, novos detalhes surgem para deixar a situação deles ainda mais complicada. Além disso, os capítulo são bem curtos. Muitos deles possuem uma única folha (só a parte da frente, sem verso), cada capítulo alterna entre as histórias dos dois personagens, se um está focado em Marrie-Laure, o seguinte se foca em Werner, mas há aqueles que se voltam para os personagens secundários, ou mesmo que apenas nos narram o que está acontecendo em uma visão mais ampla. Acredito que este tenha sido um recurso muito explorado pelo autor para conseguir mostrar a visão tanto dos Franceses, quanto dos Alemãs, deixando claro assim, o quanto o sofrimento ocasionado pela guerra afligiu os dois países. 
            O livro possui um leque de personagens bem construídos e todos eles de alguma forma servem para mostrar um aspecto da guerra, cada um em seu lugar: franceses, alemães, soldados, civis, crianças, pais, professores, alunos.... Todos eles, terrivelmente marcados pela guerra. A narração é feita em 3º e no tempo presente, o que juntamente com os capítulos curtos e as alternâncias temporais são responsáveis por criar a sensação de suspense, claramente, desejada pelo autor. A linguagem do livro é simples, sem grandes complexidade em seu vocabulário.
             Eu tive uma certa dificuldade para finalizar esse livro. Para mim, não foi uma leitura fácil, acredito que por alguns motivos. O primeiro deles é que não se trata de uma história simples, não há promessas de sorriso, de divertimento e leveza nesse texto. Sendo assim, ao longo da minha leitura, muitas vezes eu me sentia um tanto sobrecarregada com a severidade dessa história. Essa leitura, me fez refletir durante e após seu término sobre o mundo e a capacidade do ser humano de cometer coisas tão obscuras, afinal o livro tem como pano de fundo um acontecimento real. Além disso, para mim foi um pouco complicado me acostumar com os capítulos curtos e as inúmeras alternâncias temporais. Sempre que eu iniciava a leitura, eu precisava retornar e descobrir em que ano eu estava, me situar. Eu sou uma leitora que gosta de se sentir completamente imersa na história, e o fato dos capítulos serem tão enxutos me atrapalhou bastante. Muitas vezes, quando eu estava começando a mergulhar no mundo de Marrie-Laure, o autor cortava uma cena ou situação no meio do caminho e ia mostrar como estava o Werner. E algumas vezes, ele parava só para mostrar personagens ou cenas ainda menos interessantes. Eu sei que a intenção por trás disso é despertar a curiosidade do leitor e prendê-lo ainda mais, entretanto para mim teve o efeito contrário.
           Outro aspecto que não me agradou muito, foi sentir que o autor prolongou demais a história, a tornou arrastada e truncada demais. Me deu a sensação de que ele estava tão apegado ao padrão de um tamanho pequeno para os capítulos e voltas no tempo que, as vezes, ele cortava cortava o desenvolvimento de alguns trechos apenas por causa do formato, sem necessidade real. Em outras, me pareceu que ele criou capítulos desnecessários só por causa dessa padronização. Além disso, o narrador do livro faz algumas descrições de lugar, tempo e coisas assim um tanto desnecessárias. Não que ele descreva tanto ao ponto de se tornado massante em sua narração, mas ele poderia ter agilizado um pouco mais o andamento da história algumas vezes. No início, há explicações, que não são propriamente relevantes a história (e nem muito interessantes para mim) dos processos que Werner faz para consertar os rádios. Há também a presença de algumas divagações que soam um tanto estranhas (a mim), se não forçadas, coisa como: "Em algum lugar um pássaro pia, uma folha de árvore cai no chão e o silêncio paira sobre uma mãe e seu filho..." (Isso não está no livro, é apenas uma invenção minha para ilustrar).   Eu tenho consciência que esse tipo de narração, mais poética até, contribua para dar um tom mais profundo e reflexivo a história. Na verdade, eu acredito que são esses pequenos detalhes que o livro destaca ao longo do texto, que dão sentido ao título "Toda a luz que não podemos ver", os pequenos detalhes que importam. E não é que eu não goste, eu gosto, porém as vezes parecia fora de lugar. Nem sempre é necessário fechar o capítulo ou fazer o personagem demorar a tomar uma decisão por causa disso. Acredito que poderia ter sido mais equilibrado. Tudo isso, deixou a leitura um pouco arrastada para mim. Não é aquele tipo de livro para se ler em um dia. 
             Quanto a trama em si, sem dar spoilers, é uma história bastante reflexiva. Como eu já disse inúmeras vezes ao longo desse texto, não apenas um romance leve e tranquilo. É uma história sobre a guerra e suas consequências terríveis. É sobre impotência muitas vezes, sobre não poder mudar a situação em que você é jogado. Entretanto, também é sobre atitude, sobre ter coragem de ir contra o que estão te impondo para fazer o que é certo, para salvar vidas. Os personagens são muito humanos, todos eles possuem medos, inseguranças, sofrimentos, no entanto, também possuem muita coragem, especialmente nossos protagonistas, e força para encarar o que for. 
         Alguns outros personagens merecem destaque, o pai de Marrie-Laure é um homem muito bondoso, cuida da filha e faz de tudo para protegê-la desde pequena, a mãe da menina morreu no parto, mas este pai foi capaz de cuidar dela com muito amor e carinho. Madame Manec, a empregada da casa do tio-avó de Marrie-Laure, é uma senhora notável, acolhe a menina com carinho e a ensina coisas muito importante, como: vale a pena lutar por uma causa justas. Contudo, o destaque para mim, do núcleo dela fica com Etienne, o tio-avó, no início ele é um personagem um tanto chato, meio fraco e frágil demais, porém ao longo do livro ele se desenvolve e se torna quase uma nova pessoa. A relação entre os dois é muito bonita e forte, ele passa a amá-la como um segundo pai. 
           Quanto aos personagens do lado de Werner, temos sua irmã Jutta, que é como o toten ao qual Werner se agarra para continuar sendo humano e tendo valores, apesar das coisas que precisa enfrentar. É uma menina corajosa, mas acompanhamos muito pouco sua trajetória, e isso foi uma das coisas de que eu senti falta no livro, uma personagem interessante que não foi tão explorada. Além dela, temos seus companheiros do exército, o principal deles Volkheimer, um personagem que representa muito bem (acredito eu) o como a guerra transformou homens em soldados e o quanto isso afetou completamente a vida deles. E eu gostaria de dar destaque a Frederick, um amigo de Werner da escola Nazista. Poderia enquadrá-lo mais ou menos no caso de Etienne, um personagem que parece que não tem muito para oferecer, mas surpreende nas escolhas e atitudes que toma, um garoto que apesar das probabilidade, não tem medo de defender o que acredita e que, como todos nesta história, também é marcado para sempre por toda a situação em que se encontra. 
          Em relação aos nosso protagonistas, os dois eram apenas crianças quando tudo começou, eram felizes e inocentes, ao longo da história passam por muita coisa. No ínicio, Werner é um tanto hesitante e indeciso. Ele não configura o herói a que estamos acostumados logo no início,  ele precisou amadurecer muito. Ele era só um menino tentando crescer e cuidar da irmã, porém foi lançado nesse mundo caótico e aos pouco, foi descobrindo que nem sempre se deve seguir a risca o que os "mais velhos", comandantes, generais, superiores dizem, ele precisou aprender que ele tinha escolha, apesar de tudo, e que era necessário que ele tomasse suas próprias decisões. Marie-Laure é uma menina bondosa, que na verdade, trouxe vida e inspirou quem estava ao seu redor. Aos poucos, ela vai deixando de ser tão ingênua e vai amadurecendo. A bondade e o amor de que o sinopse fala, estão presente nestes dois, no olhar que Marrie-Laure tem sobre a vida e na força de não se deixar abater que percebemos nela. Já Werner é, digamos, mais confuso e menos otimista, mas no fim configura a bondade e tem coragem para fazer o bem quando é preciso. Esses personagens justificam o título da obra, eles possuem a luz que acaba ofuscada em meio a guerra, uma luz que apesar de fraca, não deixa de brilhar apesar das circunstâncias.

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